Em seu último dia de participação na COP30, a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB Nacional) acompanhou uma audiência pública marcada pela apresentação das principais demandas socioambientais formuladas por movimentos populares, povos originários e pelo coletivo de crianças e adolescentes da Cúpula das Infâncias. O encontro reuniu representantes de diferentes esferas governamentais, lideranças tradicionais e organizações da sociedade civil, reforçando a urgência de ações concretas para enfrentar a crise climática que afeta, sobretudo, as populações mais vulneráveis.

Durante o evento, foi realizada a leitura da Declaração da Cúpula dos Povos rumo à COP30, documento construído coletivamente ao longo de vários meses por mais de 70 mil participantes. A declaração apresenta uma análise crítica sobre as causas estruturais da crise climática e denuncia as desigualdades históricas que atingem de forma mais severa os povos da Amazônia, as periferias urbanas e as comunidades tradicionais. O texto aponta que o modelo atual de desenvolvimento aprofunda os impactos ambientais e compromete direitos fundamentais, exigindo respostas governamentais firmes, transparentes e orientadas pelo princípio da justiça socioambiental.

Entre as principais reivindicações, a Declaração defende a demarcação e proteção dos territórios indígenas, o desmatamento zero, a implementação de uma transição energética justa e o fim da exploração de combustíveis fósseis. O documento também ressalta a importância dos saberes ancestrais como elementos essenciais para a construção de políticas climáticas eficazes, além da necessidade de combater o racismo ambiental e garantir a participação direta dos povos na elaboração de soluções.
A audiência também foi marcada pela leitura da Carta das Infâncias, elaborada por crianças e adolescentes de diferentes regiões da Amazônia e do Brasil. Na carta, elas relatam como as mudanças climáticas já afetam diretamente seu cotidiano, trazendo dificuldades para estudar, brincar e viver com dignidade em meio ao calor extremo, à poluição e à degradação ambiental. As crianças afirmam, de modo claro e assertivo, que não apenas pedem, mas reivindicam seu direito ao futuro, propondo ações como o plantio de árvores, o combate ao desmatamento, a proteção dos animais, o cuidado com os rios e a inclusão da educação ambiental nas escolas. Elas concluem a carta com um apelo firme para que adultos e governantes assumam sua responsabilidade diante da crise climática.
Em seu pronunciamento, Cacique Raoni reforçou o conteúdo apresentado nas cartas, alertando para a urgência de políticas que protejam a Terra e garantam condições dignas de vida aos povos da floresta. O líder indígena destacou que não é mais possível tolerar práticas que ameaçam a sobrevivência dos biomas e chamou as autoridades a se comprometerem com ações efetivas em defesa da vida.
A participação da CRB Nacional na COP30 reafirma seu compromisso evangélico, profético e solidário com os que mais sofrem os impactos da crise climática. Como entidade que atua historicamente na defesa dos pobres, dos vulnerabilizados e da Casa Comum, a CRB Nacional reforça sua missão de promover a justiça socioambiental, fortalecer a dignidade humana e contribuir para a construção de um futuro sustentável, justo e esperançoso para todas as gerações.
Por: Neusa Santos



